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ESPECIAL DE DOMINGO: Diabetes emocional, essa doença existe?

ESPECIAL DE DOMINGO: Diabetes emocional, essa doença existe?

Algumas pessoas acreditam que têm diabetes emocional e que, para controlar os níveis de glicose no sangue, precisam ficar de olho no prato e na cabeça... Mas será que essa doença existe?

POR ROSANA FARIA DE FREITAS | FOTOS FERNANDO GARDINALI

Fátima, de 55 anos, que prefere não revelar sua verdadeira identidade, foi diagnosticada há 10 anos com diabetes emocional, após ter feito uma peregrinação por especialistas de São Paulo em busca de uma razão para seu emagrecimento repentino e para a oscilação dos níveis de glicose no sangue (que atingiam picos altíssimos). O médico que a atendeu se baseou nesse aumento do nível de açúcar no sangue e em um episódio de síndrome do pânico enfrentado pela paciente para, enfim, bater o martelo quanto à doença. Desde então, além de um controle alimentar rígido, Fátima - que é nervosa por natureza - procura evitar o estresse e controlar suas emoções negativas o máximo que pode.

Como a história de Fátima não é um relato isolado, uma pergunta começa a despontar na cabeça de quem se preocupa com o diabetes...

Além do tipo 1, do tipo 2 e do diabetes gestacional, será que agora existe uma nova versão da doença? A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) garante que não.

"Não existe diabetes emocional. A doença pode, sim, ser desencadeada por um problema de ordem psíquica, porém, somente em quem apresenta condições para isso, quer dizer, alguma predisposição genética", explica Marcos Tambascia, professor de endocrinologia da Universidade Es tadual de Campinhas (Unicamp) e presidente da SBD.

"O estresse emocional, tanto o bom quanto o ruim, pode funcionar como um gatilho que aciona o diabetes do tipo 1 e 2 em indivíduos com histórico familiar para o problema", reforça Leão Zagury, membro da American Diabetes Association e da Sociedade Argentina de Diabetes, ex-presidente da Associação Brasileira de Diabetes e professor de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

CONHEÇA OS TIPOS DE DIABETES RECONHECIDOS

DIABETES DO TIPO 1, que se instala na infância e adolescência e é ocasionada pela destruição imunológica das células protetoras de insulina - e, nesse caso, é necessário o uso de insulina para o tratamento.

DIABETES DO TIPO 2, que é a forma mais comum e abrange quase 90% dos quadros, acometendo primordialmente os adultos. Aqui a doença é provocada pela resistência do organismo à ação da insulina e produção insuficiente da mesma, em geral relacionada a quadros de obesidade e sedentarismo.

DIABETES GESTACIONAL, que, como o nome indica, se instala durante a gravidez. A explicação está nas alterações hormonais dessa fase de vida, que leva à resistência à insulina.

OUTROS TIPOS DE DIABETES, que ocorrem por doenças pancreáticas, genéticas ou hormonais.




Estresse como gatilho
O estado emocional desencadeia e agrava a doença. Afinal, é preciso relembrar que o diabetes é uma doença caracterizada pela elevação do nível da glicose (açúcar) no sangue. Esse aumento ocorre em três situações: quando o organismo não produz insulina - hormônio que ajuda a transportar a glicose do sangue para o interior das células -, quando fabrica insulina em quantidade insuficiente ou quando o corpo não consegue absorver adequadamente a insulina produzida. "Durante uma situação de tensão emocional, o corpo libera hormônios, como a adrenalina e o cortisol, que têm ação contrária à insulina", salienta Marcos Tambascia.

Independentemente do tipo de diabetes, o controle dos níveis de açúcar no sangue e os exames periódicos são essenciais

Isso explica porque, em indivíduos predispostos, os fatores psicológicos disparam o problema. E isso acontece de duas formas distintas. Na primeira, a pessoa desenvolve o mal depois de sofrer um impacto emocional inesperado - como a perda de um ente querido ou de um emprego, por exemplo. Acredita-se, no entanto, que, nessas situações, a reserva de insulina estava no limite e, portanto, o indivíduo já estava a um passo de apresentar a disfunção. Na segunda, não há um abalo psíquico e sim um estresse crônico ou prolongado, que contribui para o surgimento da doença em quem tem fatores de risco.

A psicóloga clínica Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lembra que "nenhuma enfermidade, do ponto de vista de seu aparecimento, está livre de sofrer a influência de aspectos emocionais".

Essa é a base da psicossomática: nenhuma reação do organismo ocorre por acaso, há uma série de conjunções que a influencia. Um quadro emocional mais tenso desencadeia a produção de hormônios e isso altera os níveis glicêmicos, no caso do diabetes, da mesma forma que poderia atingir outras áreas - como a cardíaca, por exemplo, levando a um infarto.

É importante destacar que, em quem já apresenta a enfermidade, o aspecto emocional também pode agravar o caso, pois provoca o descontrole na produção da insulina e o aumento do nível de glicose no sangue. De qualquer forma, não importa se tenha sido desencadeado ou intensificado por estresse, o fato é que o diabetes precisa ser tratado sempre, e adequadamente. "O perigo de a pessoa achar que tem 'diabetes emocional' é esse, acreditar que se trata de uma variante menos importante da doença e não buscar tratamento. Ou, ainda, supor que tudo se resolverá automaticamente, quando as condições psíquicas ficarem favoráveis novamente", alerta Leão Zagury. O recado é: não adianta só procurar terapia, é imprescindível fazer o controle com o acompanhamento de um profissional competente.

Sinal vermelho


Fique atento aos sintomas que a doença pode provocar:

Muita sede.
Vontade exagerada de urinar.
Perda de peso (mesmo sentindo mais apetite e comendo mais do que o habitual).
Fome excessiva.
Visão embaçada.
Infecções repetidas na pele ou nas mucosas.
Machucados que demoram a cicatrizar.
Fadiga (cansaço inexplicável).
Dores nas pernas por causa da má circulação.

Em alguns casos não há sintomas, principalmente no tipo 2. Os sinais são vagos, como formigamento nas mãos e nos pés. Por isso, o exame que identifica a doença é indicado para quem tem mais de 40 anos.





Tratamento: dieta, exercício e medicamento
O diabetes, seja de que tipo for, precisa ser encarado com seriedade. Os tratamentos têm como objetivo controlar a glicemia (alteração da taxa de açúcar no sangue) de forma a evitar as complicações da doença - uma lista delas, aliás, que inclui aumento da pressão arterial, derrame, infarto, lesões nos rins, paralisias, catarata, perda da visão, necessidade de amputação dos membros inferiores.

Hoje já existem vários aparelhos e produtos que permitem monitorar o açúcar no sangue e na urina. É essencial, também, fazer os exames periódicos solicitados pelo médico. Vale lembrar que nem todo diabético precisa de insulina, alguns usam comprimidos e outros fazem apenas controle alimentar.

O tratamento inclui dieta, exercícios físicos e medicamentos. A alimentação é um dos pontos fundamentais e, na medida do possível, deve ser individualizada, levando em consideração o estado nutricional do paciente e seus hábitos de vida. A atividade física, por sua vez, também beneficia a ação da insulina (melhora a captação da glicose pelas células) e, portanto, contribui para a redução da glicemia. Já o tratamento medicamentoso engloba a aplicação de insulina ou a administração de remédios e deve ser orientado por um endocrinologista.

Em todos os casos e, sobretudo, nos que foram alavancados por questões emocionais, é importante cuidar da parte psíquica. "A pessoa tem que tentar, na medida do possível, ter uma vida equilibrada. A receita não é fácil e muito menos rápida, e inclui o autoconhecimento, a descoberta de válvulas de escape e uma mudança na maneira de encarar os problemas e reagir a eles, de preferência com a ajuda de um psicoterapeuta. No caso do diabético, realizando tratamento médico conjuntamente", explica Mara Pusch. Ela sugere, ainda, terapias com efeito calmante, como a ioga. "Praticar esportes e aulas de dança, tocar um instrumento, fazer meditação e relaxamento - essas atividades ajudam a liberar sentimentos guardados ou escondidos. Não adianta passar por cima de situações estressantes, é preciso vivenciar e sentir as tensões para, depois, tirá-las da mente. Tem que encarar os problemas, de forma a não somatizar e, conseqüentemente, não adoecer o corpo."

Comentários

  1. Quanto mais as pesquisas avançam, mais sabemos que o aparecimento ou desencadeamento do diabetes necessita de um "background genético" que chamamos de HLA (antígenos de histocompatibilidade) e de fatores ambientais menores e maiores. As infecções virais, principalmente os enterovírus e a exposição precoce a alguns tipos de alimentos são amplamente estudados e publicados. O estresse, por aumentar os níveis de adrenalina e cortisol, substâncias contra-reguladoras da insulina, e portanto podem apresentar um efeito hiperglicemiante, sendo algumas vezes um simples gatilho do aparecimento de uma doença que há algum tempo já estava se desenvolvendo sobre o background genético e os outros gatilhos já comentados. Portanto, consideramos realmente inexistente essa denominação.
    Mauro Scharf - Centro de Diabetes Curitiba

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  2. Oi meu nome é Lorrayne ,tenho 14 e fui dianosticada como diabetica emocional, a taxa é de 113.
    E quero saber se realmente sou diabetica?

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  3. tenho 54 anos e componente genético para tipo 2. Até há um mes estava sob controle, com picos máximos de 180, muito eventualmente. Por conta de uma situação de estresse, houve um descontrole, chegando a 262, mas agora identifiquei os gatilhos da hiperglicemia. Os remédios são: os remédios do médico e principalmente: MUITA CALMA NESTA HORA!

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