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Estudo sobre insulina pode levar a novos aplicadores

Os resultados de um novo estudo sobre o tratamento do diabetes juvenil podem propiciar esperança a milhões de pais, nos Estados Unidos e em outros países, que em geral precisam se levantar diversas vezes por noite a fim de garantir que o nível de açúcar no sangue de seus filhos diabéticos não tenha caído para a zona de perigo.

E a pesquisa publicada na sexta-feira pela revista médica britânica Lancet pode ajudar a incentivar as empresas fabricantes de equipamentos médicos a desenvolver mais rapidamente tecnologias baseadas no conceito subjacente ao estudo.

A pesquisa constatou que um novo algoritmo de computador que analisa o nível de glicose no sangue da criança e recomenda ajustes frequentes na dosagem de insulina funciona melhor para prevenir a baixa presença noturna de glicose do que o sistema padronizado de administração de tratamento para diabetes hoje em uso.

O sistema padronizado envolve um monitor contínuo de glicose que opera em separado de uma bomba de insulina pré-programada - uma abordagem usada por muitos dos três milhões de norte-americanos que, estimam as autoridades de saúde, sofrem do diabetes tipo 2, muitas vezes associado à obesidade.

A presença muito baixa de glicose no sangue, conhecida como hipoglicemia, é uma condição que apresenta riscos para as pessoas portadoras de qualquer das formas de diabetes, e pode causar tremores, tonturas, convulsões, coma ou até a morte. Mas a condição é especialmente preocupante entre as crianças que recebem tratamento com insulina, porque seu nível de açúcar no sangue tende a flutuar de forma mais ampla, disseram os pesquisadores.

Nenhuma das crianças participantes do estudo que foram tratadas com o sistema assistido por computador sofreu de hipoglicemia noturna no período acompanhado. Mas houve nove episódios de baixo nível de glicose no sangue entre as crianças que foram submetidas ao tratamento padrão, de acordo com o estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

"Esse é um passo importante para o controle do diabetes, porque demonstra que, com esse sistema, as pessoas podem dormir em segurança com um risco minimizado de hipoglicemia", disse o Dr. Eric Renard, professor especializado em pesquisa de diabetes no Hospital Universitário de Montpellier, França.

Renard, cujos comentários foram publicados em editorial que acompanha o estudo na Lancet, funciona como consultor e porta-voz de diversos fabricantes de produtos para o tratamento do diabetes, ele diz. Analistas do setor estimaram que cerca de 10% a 15% dos norte-americanos que sofrem de diabetes tipo 1 ¿ou cerca de 400 mil pessoas- usam ou um monitor contínuo de glicose ou uma bomba de insulina, e em certos casos ambas as coisas.

Ao longo dos 10 últimos anos, os fabricantes de aparelhos médicos desenvolveram técnicas que ampliaram as opções de controle do diabetes para além do exame realizado por extração de gotas de sangue diversas vezes ao dia a fim de testar o nível de glicose no sangue. Empresas como a DexCom, de San Diego, agora produzem pequenos monitores contínuos de insulina, que são implantados na pele. E a Animas, uma divisão do grupo farmacêutico Johnson & Johnson, produz bombas programáveis do tamanho de um celular, que administram doses de insulina por meio de um pequeno cateter implantável.

Esses aparelhos de nova geração representam avanço significativo com relação aos produtos mais antigos, disse Aaron Kowalski, vice-presidente de pesquisas sobre controle da glicose na Fundação de Pesquisa do Diabetes Juvenil, em Nova York, uma das maiores organizações sem fins lucrativos no segmento de pesquisa e proteção aos pacientes de diabetes.

Ainda assim, Kowalski afirma que o uso de aparelhos separados que não tenham sido projetados para operar em conjunto impõe limites ao tratamento, especialmente noturno. Caso o nível de glicose de uma pessoa caia durante o sono e o alarme do monitor de glicose dispare, a pessoa pode não acordar e a bomba pré-programada, que opera de forma autônoma, continuaria a injetar insulina, agravando o problema, diz Kowalski. (Sua organização foi uma das patrocinadores do estudo da Lancet.)

Pesquisadores na Europa e nos Estados Unidos vêm correndo para desenvolver um sistema completamente automatizado para o diabetes tipo 1 que possa conectar sem fio um monitor de insulina externo a um dispositivo de aplicação de insulina. Com base em algoritmos como o utilizado no estudo publicado pela Lancet, os aparelhos monitorariam continuamente o nível de glicose e administrariam insulina em tempo real - automatizando a tarefa de administração de insulina que foi realizada por um enfermeiro no estudo.

Os pesquisadores definem esse sistema integrado hipotético como um "pâncreas artificial", porque imitaria a maneira pela qual um pâncreas saudável opera, medindo o nível de glicose e administrando insulina na dosagem certa e no momento certo. A meta é um sistema portátil que poderia ser usado em um cinto, com tamanho não maior que o de um celular.

No mês passado, como parte de um esforço conhecido como Projeto Pâncreas Artificial, a Fundação de Pesquisa do Diabetes Juvenil anunciou uma parceria de US$ 8 milhões com a Animas a fim de desenvolver um sistema combinado de primeira geração. Enquanto isso, a União Europeia deu início a um projeto paralelo, Pâncreas Artificial em Casa, que envolve verbas de 10,5 milhões de euros distribuídas entre equipes de pesquisa de toda a Europa, a fim de criar o protótipo de um dispositivo combinado, em prazo de quatros anos, disse o Dr. Renard.

O novo estudo publicado pela Lancet, dizem os defensores da ideia, representa um marco em termos de comprovação de conceito, na busca pelo desenvolvimento de um sistema como esse.

"A importância está em demonstrar que os aparelhos existentes, que estão disponíveis comercialmente, podem ser combinados a fim de criar a primeira versão de um pâncreas artificial", disse o Dr. Roman Hovorka, diretor científico do estudo.

Hovorka, diretor associado de pesquisa pediátrica em Cambridge, informou trabalhar como consultor e porta-voz para diversos fabricantes de equipamentos de combate ao diabetes.

Ainda que o estudo da Lancet seja pequeno - apenas 17 crianças completaram o protocolo integral-, ele é significativo porque demonstrou que um algoritmo de computador era capaz de interpretar com segurança os dados sobre a glicose e calcular as doses de insulina apropriadas para uma bomba, ele disse.

O estudo não só indicava que o sistema de algoritmo prevenia hipoglicemia acentuada durante o sono, disse Hovorka, como também indicava que o sistema experimental estava mais capacitado a manter a glicose em nível aceitável.

Depois da meia-noite, cerca de 80% dos pacientes viam o nível medido de glicose cair para a faixa desejada, em crianças tratadas pelo sistema ajustado por computador ¿ante apenas 35% no caso das crianças tratadas com o sistema padrão de bomba de insulina pré-programada, de acordo com o estudo.

Ainda assim, embora os resultados gerais sejam significativos do ponto de vista estatístico, o estudo não tinha dimensão suficiente para oferecer representatividade estatística para todos os seus componentes. Os demais ramos do estudo avaliavam como se saíam as crianças depois das refeições ou de se exercitarem - fatores que podem afetar o nível de glicose.

E o sistema experimental combinado não era ele mesmo integralmente automatizado. Para garantir que o algoritmo experimental não recomendasse dosagens inseguras, um enfermeiro lia as sugestões computadorizadas de dosagem e ajustava manualmente as bombas de insulina dos pacientes.

Mesmo que os fabricantes de aparelhos consigam desenvolver protótipos inteiramente automatizados de sistemas combinados, devem enfrentar obstáculos regulatórios, disseram os analistas, e podem ter de computador questões de responsabilidade judicial pelo bom funcionamento dos dispositivos.

"Isso é algo que as empresas vêm se esforçando há anos por desenvolver, e está mais próximo, à medida que evolui a tecnologia dos chips de computador", disse Rick Wise, analista do Leerink Swann, um banco de investimento especializado no setor de saúde. "Mas é preciso compreender o grau absurdo de confiabilidade que um pâncreas teria de ter para ler a glicose corretamente e administrar a insulina corretamente".

Tradução: Paulo Migliacci ME

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