Pular para o conteúdo principal

ESPECIAL DE DOMINGO: Pais, parentes e crianças diabéticas... A família Diabetes!

ESPECIAL DE DOMINGO: Pais, parentes e crianças diabéticas... A família Diabetes!


O diabetes infantil é uma das doenças crônicas mais exigentes a nível psicológico, social e físico, obrigando a muitas adaptações por parte da criança diabética, dos seus pais, irmãos, e da família enquanto um todo.

A maior dificuldade que enfrentam os pais de uma criança diabética, logo a partir do diagnóstico, é a de viverem um estado de receio constante, ou seja, desde o momento do diagnóstico que os pais sentem que nunca mais estarão totalmente descansados, que este novo receio estará sempre e para sempre presente. O receio constante vai diminuindo de intensidade com o tempo, tornando-se novamente mais forte quando existe uma nova crise, e influência toda a forma como os pais vivem a sua vida e a do seu filho, como pensam o dia-a-dia e o futuro, influenciando assim todos os seus atos e decisões.

As principais razões para que aconteça este estado de receio constante são certas características do diabetes infantil e das novas exigências que esta traz aos pais.

Uma destas características é a imprevisibilidade da doença. De fato, por muito cuidado que os pais tenham em seguir todas as prescrições médicas, por vezes os valores de glicose no sangue alteram-se sem explicação, entrando a criança em estado de hipo ou hiperglicemia, às vezes sem sinais visíveis de que tal está a acontecer. Assim, esta imprevisibilidade pode levar a um sentimento de impotência e dificultar a adaptação dos pais à doença, dando lugar a um sentimento de desconforto e insegurança quando não estão próximos da criança. Um recurso importante para os pais conseguirem suportar melhor esta angústia ligada à separação, e para que possam oferecer à criança uma vida o mais normal possível, é o apoio de terceiros, que implica a existência de pessoas exteriores à família nuclear (por exemplo: avós, professores) que saibam lidar com as necessidades acrescidas da criança e em quem os pais confiem para tomar conta desta quando não estão presentes.

Outra característica do diabetes que provoca o estado de receio constante, é a de que exige dos pais um papel de "pais-enfermeiros", já que pressupõe que eles sejam capazes de prestar alguns cuidados de enfermagem à criança. Esta integração do papel de enfermeiro no papel de progenitor é difícil e complexa por duas grandes razões: por um lado porque exige uma grande aprendizagem, não só de novas tarefas, mas também de conhecimentos médicos acerca do que é a diabetes; por outro, porque são os pais que cuidam diariamente da criança. Ora, é suposto ser papel dos pais procurar diminuir ou dar fim ao desconforto e à dor do seu filho, no entanto agora são os pais que, ao prestar os cuidados necessários, levam ao desconforto e à dor. Surge muitas vezes uma dificuldade em administrar os cuidados por medo de magoar a criança, que aumenta com a resistência desta ao tratamento. Os pais podem ter que imobilizar a criança à força para conseguirem injetar a insulina ou picar-lhe o dedo, assim como podem ter que a obrigar a comer.

O fato de estes novos cuidados exigirem, como já foi dito, uma aprendizagem extensa e bastante rigor, leva também a que os pais, de início, tenham medo de errar na administração dos cuidados, nomeadamente de errar na medição da insulina necessária, de não conseguir agir correta e eficazmente face a um episódio de hipo ou de hiperglicemia. Os primeiros momentos de integração do papel de "pais-enfermeiros" podem ser de uma tão grande dificuldade que os pais podem sentir-se incompetentes para tratar do seu filho; este sentimento vai sendo ultrapassado, à medida que o tempo passa e que os pais percebem que são capazes de ultrapassar os momentos mais difíceis, voltando então a surgir o sentimento de que são os mais aptos para cuidar daquela criança, são aqueles que a conhecem melhor e que melhor sabem lidar com a seu diabetes.

Ainda uma razão que contribui para o estado de receio constante surge como uma das tarefas essenciais dos pais de uma criança diabética: o ajudar o filho a adaptar-se à doença que tem, e que terá durante toda a sua vida. Esta tarefa é extremamente importante para que este se torne num adulto o mais saudável possível, a nível físico e emocional, que aprenda a prestar ele próprio os cuidados e, ainda mais importante, que aprenda a aceitar-se a si próprio como diabético. Os pais preocupam-se com a adaptação futura da criança, e o nível desta preocupação depende da forma como sentem que a criança se tem adaptado à doença, assim como da sua própria adaptação. Uma outra preocupação que surge, relacionada com a adaptação da criança, é a preocupação com o estigma, de que a criança fique com uma marca social da doença.

Os pais preocupam-se em diminuir este estigma, ajudando-a a lidar com as reações menos agradáveis de terceiros, procurando que esta se sinta, o mais possível, uma criança igual às outras. Uma das estratégias que utilizam para ajudar a criança a adaptar-se à doença passa então por salientar aquilo que ela tem de igual às outras crianças, e a capacidade que tem de construir uma vida o mais possível normal, diminuindo a importância que possam ter certas limitações. Outra estratégia utilizada pelos pais é o procurar viver uma vida normal: os pais procuram manter as atividades anteriores da família, procurando que o seu filho leve a cabo atividades comuns às crianças da sua idade, para que se sinta o mais possível integrado.

Quando o casal tem outros filhos, os pais também podem recear que a doença tenha um impacto negativo nestes. O impacto da diabetes nos irmãos pode ser sentido de várias formas, como a diminuição da atenção prestada pelos pais ou as restrições alimentares. Para além de terem sempre a preocupação de não diminuir a atenção prestada ao outro filho, uma das estratégias utilizadas pelos pais pode ser a implicação do irmão nos cuidados, quer ao nível da administração dos cuidados como na vigilância dos sinais da doença, fazendo com que ele não se sinta posto de parte e que compreenda melhor a situação.

Existem fatores que, por outro lado, são muito importantes para que os pais consigam conviver com este estado de receio constante, e para que o consigam reduzir, através de recursos que encontram no seu parceiro ou em médicos.
Um destes fatores é a partilha entre os pais dos cuidados prestados à criança, que pode ser especialmente importante a nível emocional já que, acima de tudo, partilham os medos e preocupações que a doença do seu filho lhes traz. Quando, pelo contrário, não há partilha dos cuidados entre o casal, apenas um dos progenitores (normalmente a mãe) fica encarregue de todos os cuidados que a criança agora exige. Nesta situação, pode acontecer que sinta falta de apoio, podendo mesmo surgir sentimentos de solidão e de revolta em relação ao companheiro.


Um outro fator importante é a satisfação com a assistência médica, que se relaciona com a percepção, no médico, de disponibilidade, de humanidade, de capacidade para ensinar os pais a administrar os cuidados (e a sentirem-se capazes de os administrar, a sentirem-se competentes enquanto pais). O facto de sentirem que os médicos estão lá, a qualquer hora, para os ajudar a resolver qualquer situação, é extremamente importante, especialmente de início, quando os receios dos pais são maiores.

Em conclusão, apesar de todas as dificuldades que surgem com o diabetes, é importante realçar que os pais acabam por desenvolver estratégias, por encontrar fórmulas para resolver cada problema que surge da melhor forma possível, conseguindo que a família encontre um novo equilíbrio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quais os direitos dos portadores de diabetes no Brasil?

Organizações de todo o Brasil há muitos anos vem se preocupando em esclarecer aos portadores de diabetes, familiares e comunidade em geral, que os cuidados com a diabetes envolvem a educação em diabetes, o tratamento adequado e o conseqüente acesso ao mesmo. A saúde é direito de todos e dever do Estado , segundo determina nossa Constituição Federal ( artigo 196 e seguintes), chamada de constituição cidadã, e a Lei Orgânica da Saúde, Lei 8080/90 (artigo 7º,I). Nesse sentido, qualquer cidadão tem o direito de ser atendido pelo sistema público de saúde sempre que necessário para a proteção ou recuperação de sua saúde . Uma das diretrizes do SUS – Sistema Único de Saúde é justamente o atendimento integral, que consiste no fornecimento tanto das ações e serviços de saúde preventivos como dos assistenciais ou curativos (artigo 198, II da Constituição Federal; artigos 5º, II e 7º, II da Lei 8080/90). Sabemos que colocar isto em prática não é fácil para o cidadão. O atendimento e a bus

ALIMENTOS - MITOS E VERDADES PARA OS DIABÉTICOS

Muitas pessoas acreditam que o fato de um alimento ser natural significa que é seguro e eficiente. Vejamos alguns exemplos de mitos e verdades a respeito deles. Mitos Diabético não pode comer beterraba; Diabético não pode comer batata e arroz junto; Diabético não pode comer arroz e macarrão; O diabético não deve comer caqui, pois é muito doce; Substituir o leite por café; Caldo de cana e água de coco são naturais, portanto o diabético pode beber a vontade; Água tônica é amarga e o diabético pode beber sem problemas; Suco de fruta é natural, portanto o diabético deve usar e abusar; Açúcar causa diabetes; Não beber refrigerante dietético; Beber muita água dá diabetes; O diabético não pode comer aipim e nem farofa; Banana faz mal ao diabético; Mel e açúcar mascavo são naturais. Sendo assim, diabético pode usar; Fritura faz mal, mas se

10 coisas que você precisa saber sobre o diabetes

  O diabetes se caracteriza pela deficiência de produção e/ou de ação da insulina. O diabetes tipo 1 é resultante da destruição autoimune das células produtoras de insulina. O diagnóstico desse tipo de diabetes acontece, em geral, durante a infância e a adolescência, mas pode também ocorrer em outras faixas etárias. Já no diabetes tipo 2, o pâncreas produz insulina, mas há incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Esse tipo de diabetes é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, acima do peso, sedentárias, sem hábitos saudáveis de alimentação, mas também pode ocorrer em jovens. Confira 10 coisas que você precisa saber sobre os dois tipos mais comuns de diabetes: 1. No tratamento do diabetes, o ideal é que a glicose fique entre 70 e 100mg/dL.  A partir de 100mg/dL  em jejum ou 140mg/dL duas horas após as refeições, considera-se hiperglicemia e, abaixo de 70mg/dL, hipoglicemia. Se a glicose permanecer alta demais por muito tempo, haverá mais possibilidade de