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Depoimento de Vera Puggina

Vera Maria Alcantara Puggina mora em Pelotas/RS, tem 61 anos e é diabética tipo I.
Minha história com o diabetes não é diferente de nenhum outro portador. Relato aqui um pouco do que já escrevi sobre esta parceria. Aproveitem deste relato o que de melhor existe nele, ou seja, a parte de minha total conscientização. Por isto, resolvi enviar um escrito que fiz, onde descrevo um resumo da convivência diabética.

CONSCIENTIZAÇÃO
CONSCIÊNCIA - Atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria realidade (circundante e pessoal)
CONSCIENTIZAÇÃO - Processo pelo qual o ser humano, para atingir uma vida plena de qualidade e de significações, sabe bem o que faz e o que deve fazer com relação a realidades circundantes e pessoais.

“Alguma coisa acontece no meu coração Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João...”

Assim canta o poeta – Franchetti, Paulo e outro. Caetano Veloso-São Paulo: Nova Cultural, 198l. O poema apreende e compreende a própria dinâmica da consciência. A partir da constatação de um fato (“Alguma coisa acontece no meu coração...”), numa certa situação (“... que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João...”)-centro velho da cidade de São Paulo, vão-se demarcando diferentes situações de experiências (vivências) e os verbos acontecer e cruzar dominam o poema. Sem separar diferentes ingredientes daquela dinâmica (outras situações; eu e vivências, impressões, interações com elementos da natureza e da cultura paulistana, sentimentos, novos entendimentos e valorações,...) cruza-os na continuidade do próprio existir. E tudo é realidade.
A dinâmica da consciência no poema conduz, por aprendizagem, a uma nova atitude em que o conhecimento da realidade e o sentimento pessoal se harmonizam com riqueza de significação vital. Dessa forma, o poema exprime, com perspicácia, um processo de conscientização.

É certo que viver significa tomar consciência de nós mesmos, dos que nos rodeiam, das situações a que, diariamente, estamos expostos e, também, das realidades que nos envolvem diretamente, tais como: saúde, religião, política...mas, não só. Precisamos, ao longo da vida, por renovadas aprendizagens, saber o que fazer e, realmente, fazer o que é necessário para viver, qualitativamente, bem e melhor... E a respeito dessa nossa “doce realidade”, o diabetes, por que precisamos ser mais do que conscientes dessa realidade que nos atinge? Será que, realmente sabemos nos medicar, alimentar e nos exercitar como deveríamos? Pois, assim, julgava saber e, no entanto,...

Com o diabetes, naquela época chamado de “infanto-juvenil” (até o nome era pomposo), aos onze anos e meio de idade, vi-me cercada de cuidados, medicada com a famosa, e por muitos temida, insulina, impedida de comer o que na época julgava ser a melhor “doçura” da vida, achando tudo muito estranho, aterrorizante até, a julgar pelo temor que divisava nos olhos de meus familiares. Resolvi “enfrentar” tudo sem temores, até porque não sabia das conseqüências, complicações que um diabetes mal controlado traz, com o passar do tempo.

Como Fênix, morria, ressuscitava, e os cuidados dobravam e as informações aumentavam, mas já estava mesmo “viciada” em VIVER PERIGOSAMENTE...até completar trinta anos de convivência com o DIABETES. Estava agora sem caminhar normalmente e, para completar o quadro, após uma “quase” amputação, cheguei ao fundo do poço, ou quem sabe, do inferno. Primeiro, deixei-me ali ficar petrificada, lastimando, lamuriando, como as penosas almas do purgatório. Assim permaneci por um bom tempo. Sentia-me então um verme, acovardada e arrependida pedi e implorei por piedade, com necessidade e vontade imensa de que Alguém me escutasse e, misericordiosamente, viesse em meu socorro. Quanto tempo assim fiquei não sei. Depois, senti-me mais calma, mais serena. Sob meus olhos, minha vida toda como num filme e, dilacerantemente, o arrependimento de todas as imprudências daqueles trinta longos anos. Queimava o coração e a alma e...chorei copiosamente.
Um tênue calor e uma luz refulgente inundou-me por inteira. Como um murmurar, uma voz escutei que me esclarecia: - Eu te tirarei deste fétido lugar, se me prometeres cuidar e ajudar os outros que passam por este mesmo sofrimento. Um tranqüilidade, uma alegria imensa me invadiu e eu prometi que tudo faria para me cuidar e ajudar a outros. Estendeu-me então a mão e do fundo do poço me tirou. Minha alma e meu coração vibravam; o riso e o choro molharam minha face e eu me senti plena de Paz, uma Paz que há muito não sentia.

Hoje, passados quinze anos deste episódio, tempo em que tento cumprir o prometido, atrevo-me a dizer que, naquele momento, sem saber, dei a luz minha CONSCIENTIZAÇÃO, com a mesma emoção que senti quando do nascimento de minha amada filha, emoções ainda presentes.
Conversando sobre a CONSCIENTIZAÇÃO com um filósofo, querido amigo, escutei uma observação que não posso deixar de aqui registrar.

“O processo de CONSCIENTIZAÇÃO conclama forças poderosas, de compreensão, de disponibilidades e de compromissos, práticos e universais, para com a vida significativa em todas as suas manifestações”.

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