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Cientistas brasileiros conseguem acelerar cicatrização de ferimentos

Pesquisadores brasileiros conseguiram reduzir de 35 dias para uma semana o tempo de cicatrização de feridas em ratos. O método emprega larvas de moscas-varejeiras como pequenas e minuciosas enfermeiras para limpar a região do ferimento. Algumas cobaias que não receberam essa terapia foram sacrificadas para limitar o processo de agonia decorrente da infecção. Agora, os primeiros testes em humanos podem começar no próximo ano, diz Maria José Trevizani Nitsche, da Faculdade de Medicina de Botucatu, ligada à Universidade Estadual Paulista (Unesp). A enfermeira estudou o método de limpeza de ferimentos no doutorado.

A abordagem é nova no Brasil, mas utilizada em outros países. Desde 2004, o FDA, órgão americano de vigilância sanitária, autoriza a prática. Há empresas, como a Monarch Labs nos Estados Unidos e a ZooBiotic Ltd. no Reino Unido, que produzem kits com larvas que podem ser adquiridos mediante prescrição médica. A Inglaterra também reconhece a técnica desde 2004.

ADAPTAÇÃO

Apesar de estabelecido em outros países, o método deve ser "nacionalizado", explica Wesley Augusto Conde Godoy, biólogo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), orientador de Maria José na pesquisa. "As empresas americanas e inglesas utilizam moscas da espécie Lucilia sericata", aponta Godoy. "Esta espécie existe no País, mas não em todos os lugares." Fatores como altitude e temperatura influenciam sua distribuição. Os pesquisadores procuraram espécies mais frequentes e adaptadas ao clima nacional. Elegeram duas: a Chrysomya megacephala e a C. Putoria.

Nenhuma delas é nativa do Brasil. A primeira veio da África e a segunda, da Ásia. Mas adaptaram-se muito bem e podem ser encontradas em praticamente todas as regiões. A bióloga Patrícia Jaqueline Thyssen, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que também orientou o trabalho, acrescenta ainda outra vantagem das duas espécies. Para serem usadas na terapia, as larvas devem atacar prioritariamente o tecido morto do ferimento, deixando intacto o tecido sadio.

Em 2006, Patrícia publicou um relato no Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia que descrevia como larvas de um inseto do gênero Lucilia - o mesmo utilizado no hemisfério norte - danificaram tecido sadio em um coelho. "Não há relatos semelhantes sobre as espécies que citamos na nossa pesquisa", argumenta a bióloga. "São bastante seletivas." As larvas eliminam do ferimento todo o tecido morto que serviria de alimento para colônias de bactérias. Naturalmente, para que não se tornem elas mesmas vetores de infecções, devem ser esterilizadas previamente.

No protocolo brasileiro, usa-se água sanitária para desinfetar os ovos das moscas, criadas em um laboratório com condições higiênicas rigidamente controladas. Maria José sabe que algumas pessoas torceriam o nariz antes de usar a nova terapia. Mas acredita que pacientes com ferimentos que demoram para cicatrizar - comuns em diabéticos -, com ulcerações crônicas ou queimaduras graves podem ser beneficiados com a nova técnica. "Os métodos atuais para retirar o tecido morto são ineficientes ou caros", argumenta a pesquisadora. "Nossos resultados preliminares apontam que a terapia larval é uma alternativa barata e muito eficaz."

A enfermeira procurou o biólogo pois desejava realizar o doutorado em algum tema relacionado à biologia aplicada. O pesquisador, especializado em ecologia de insetos, lembrou de um programa da National Geographic que assistiu sobre terapia larval. "Propus o assunto e ela se interessou", comenta Godoy. "Hoje vejo que, se ela não fosse enfermeira, dificilmente essa pesquisa teria uma aplicação prática: precisávamos de alguém da área de saúde para realizá-la."

PESQUISAS PUBLICADAS

Não há risco de que as larvas se reproduzam no ferimento. Elas permanecem poucas horas no local para realizar a limpeza e só atingem a maturidade sexual quando se tornam insetos adultos (ou seja, moscas). Um estudo publicado na revista "Diabetes Care", em 2003, comparou o uso de terapia convencional - normalmente hidrogéis - e terapia larval em 20 feridas de difícil cicatrização. Concluiu que o método alternativo era "mais efetivo e eficiente no debridamento de feridas não cicatrizantes nos pés e nas pernas".

Em março, o "British Medical Journal" também publicou um estudo da Universidade de York que comparava os custos e a efetividade das duas abordagens em 267 pacientes. O trabalho concluiu que as larvas são tão eficazes quanto os hidrogéis para limpar as feridas, embora realizem o serviço em um tempo menor. (AE)

Comentários

  1. Boa noite,

    Meu nome é Meysi e estou passando com um período bastante tenso e triste. Meu cachorrinho (daschund) está com câncer (mastocitoma). Pelo fato de já ter ocorrido metástese, não foi possível operar. O foco primário é perto do rabo e depois apareceu um tumor perto da virilha e a pele ao redor um pouco avermelhada. É impressionante o quanto cresceu e rápido. Logo que descobri, começamos a quimioterapia com Citostal, depois associamos o Tecnocris e por último a Vimblastina. Não estamos conseguindo melhoras com a quimio. Há uns 20 dias atrás, a pele rompeu e saiu muita áqua com sangue (foram 2 dias saindo muito liquido do edema). Depois disso meu cachorrinho apresentou muita melhora na qualidade de vida (se alimentando, andando, fazendo xixi levantando a perninha etc). Esse edema resultou em uma enorme ferida profunda, que cuidamos com muita atenão, realizando limpeza 5 vezes ao dia e colocando fralda para não pegar nenhuma bactéria. Tratamos a ferida com óleo de copaíba e em 10 dia a ferida estava fechada, mas infelizmente o tumor estava crescendo. Iniciamos a quimio com Vimblastina em 27/09. Na terça feira a noite (29/09), notei que havia um furinho perto da ferida que havia cicatrizado e olhando bem de perto vi minusculas larvas. Fiquei desesperada e liguei para a veterinária. Meu marido havia lido algo a respeito de terapia com larvas e pelo fato de amarmos muito nosso cachorrinho, que é o nosso filho, decidimos não dar o remédio para tirar as larvas e acompanhar o processo. Estávamos com receio por não ser larvas de laboratório, esterelizadas, mas era a única opção. Na manhã seguinte, as larvas estavam maiores e o buraco também. Enfim, as larvas ficaram trabalhando por 4 dias e comeram 1/3 do tumor. Enquanto elas estava atuando realizamos exame de sangue e não apresentou infecção. O problema é que elas abandonaram o tumor no quarto dia (ontem) e tumor começou a infeccionar. Realizamos novo exame de sangue e acusou alta infecção. Conversamos com a veterinária e ela disse que a opção seria conseguir novas larvas para continuar o tratamento. Por favor, preciso muito da ajuda de voces. Acabei de ler a matéria: Larvas contra feridas, na volta da secular bioterapia e várias outras matérias. Como faço para dar continuidade ao tratamento? Para o nosso "filhote" é caso de vida ou morte!!! Sabem me informar como encontro as larvas? Precisamos disso o quento antes, não podemos esperar muito tempo. POR FAVOR, ME AJUDEM!!!!!!!!!

    Desculpem o desespero, mas estamos bricando contra o tempo.

    Desde já agradeço o carinho e atenão.

    Grande abraço,
    Meysi Lou

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