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Transplante mais "suave" ataca diabetes

Pesquisadores da USP de Ribeirão Preto estão testando uma nova maneira de usar células-tronco adultas contra o diabetes tipo 1, forma da doença que é fatal caso o paciente não receba doses regulares de insulina. Três diabéticos receberam transplantes de células de parentes seus, o que levou à menor necessidade de insulina e, num dos casos, ao recuo total da doença durante seis meses.

Os resultados podem não parecer milagrosos, mas representam um protocolo potencialmente mais promissor e menos agressivo contra o diabetes tipo 1 do que o utilizado pela equipe da USP até agora.

O que ocorre é que, em testes anteriores, os pacientes eram preparados com uma forte dosagem de medicamentos imunossupressores (ou seja, que "desligam" o sistema de defesa do organismo) antes de receber células-tronco obtidas de sua própria medula óssea.

Além do risco associado à imunossupressão -infecções severas podem matar o paciente sem contribuição alguma do diabetes-, há outros efeitos colaterais graves do tratamento experimental. "Os pacientes do sexo masculino ficam com oligoespermia [baixa quantidade de espermatozoides no sêmen]", diz o coordenador do grupo, o médico Júlio César Voltarelli. "Tanto é assim que os que participaram do protocolo tiveram seu esperma congelado [para o caso de desejarem ter filhos mais tarde]."

A nova versão da terapia experimental toma partido das características especiais de um subgrupo das células da medula, as células-tronco mesenquimais (CTMs, para encurtar).

"Primeiro, elas são pouco imunogênicas", diz Voltarelli. Ou seja, a chance de que elas levem à rejeição nos pacientes transplantados é baixa. Para garantir esse risco menor, as células para transplante são obtidas de parentes dos doentes.

As CTMs apresentam ainda outras vantagens. Sabe-se, por exemplo, que elas podem agir sobre o sistema de defesa do organismo e deixá-lo menos ativo. Isso é importante porque o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, na qual as defesas do corpo se voltam contra o próprio organismo que deveriam proteger. No caso dos diabéticos, o grosso do ataque é sentido pelas células produtoras de insulina do pâncreas dos doentes, impedindo que eles controlem seus níveis de açúcar no sangue.

Voltarelli e seus colegas, após a obtenção das CTMs dos doadores, cultivaram as células em laboratório entre quatro e seis semanas antes de transferi-las para os diabéticos. "Dar aula sobre isso é fácil, difícil é fazer direito", brinca o médico.

Nos três doentes, o organismo respondeu necessitando de menos insulina. Em um dos doentes, não foi preciso administrar a substância durante seis meses, mas depois desse período os médicos tiveram de receitar insulina novamente.

"É possível que uma quantidade maior de células-tronco mesenquimais, ou então a realização de mais transplantes, consigam um efeito mais potente e duradouro", diz o pesquisador. Os resultados foram apresentados durante o 55º Congresso Brasileiro de Genética, em Águas de Lindoia (SP).

Definindo "cura"
Voltarelli também falou dos resultados mais recentes do primeiro protocolo testado por sua equipe contra o diabetes tipo 1. De 21 pacientes que passaram pela imunossupressão e pelo autotransplante, dez continuam sem precisar de insulina, um dos quais há cinco anos.

"Não é cura, é remissão prolongada", ressalta o médico, cujo trabalho gerou muita expectativa entre portadores da doença. "Os tratados tiveram recaídas apenas parciais, provavelmente porque eles ainda tinham reservas de células produtoras de insulina", afirma.

Em vários casos, a necessidade de receber o tratamento voltou depois de uma infecção por vírus. Isso pode indicar que a invasão viral fez o sistema de defesa hiperativo dos pacientes "acordar". Uma das opções para enfrentar isso pode ser o uso de substâncias que estimulam o pâncreas "cansado" a produzir mais insulina, diz ele.

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