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Perda da sensibilidade à hipoglicemia, isso pode ser revertido?

Em alguns casos, sim, a perda de sensibilidade aos sintomas da hipoglicemia pode ser revertida. Quando a pessoa tem diabetes há pouco tempo – até cerca de cinco anos – é possível voltar a sentir os sintomas da hipo com a estabilização da glicemia na faixa da normalidade. Quando a falta de percepção acontece nos portadores de diabetes de longa data, porém, a melhora pode ser relativa. Em ambos os casos, buscar e manter o melhor controle glicêmico é imprescindível, como explica a endocrinologista Sandra Roberta Gouvêa Ferreira, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo -Unifesp/Escola Paulista de Medicina.

Sandra Roberta G. Ferreira – “A falta de percepção dos sintomas da hipoglicemia é conseqüência do controle glicêmico inadequado. A hiperglicemia crônica induz a uma inibição da resposta do sistema nervoso autônomo na liberação das catecolaminas, entre as quais se encontram a adrenalina e a noradrenalina, hormônios responsáveis pela constrição dos vasos sangüíneos e aumento dos batimentos cardíacos. A liberação dessas substâncias é desejável durante uma crise de hipoglicemia, pois favorecem a elevação do nível de glicose circunstancialmente baixo. A falta das catecolaminas representa grande prejuízo ao organismo na reação à hipoglicemia, que normalmente se manifestaria pela suadeira, tremores e tontura.

Quanto mais tempo a glicemia permanecer descontrolada, maior a chance de se
desenvolver neuropatia autonômica, isto é, comprometimento do sistema nervoso
autônomo, o qual controla as funções que não dependem da nossa vontade.

A forma de se conseguir voltar a perceber a hipoglicemia é buscar melhorar a glicose no sangue, aumentando o número de testes de ponta de dedo, fazendo esses testes também nos horários de pico da insulina NPH e insulina regular. As insulinas sem pico e as ultra-rápidas – essas últimas, por terem efeito fugaz – não requerem tanto testes extras. O bom controle inclui, ainda, o uso correto e doses adequadas de insulina, alimentação controlada e prática regular de atividades físicas.

Algumas pessoas optam por se manter em hiperglicemia para evitar o risco de perda da consciência ou convulsão por causa da hipo, mas essa é uma opção totalmente incorreta que só agrava a disautonomia, além de poder levar a outros danos ainda mais graves no organismo.

Mesmo com excelente controle, apenas parte dos danos ao sistema nervoso autônomo, instalados ao longo dos anos, poderá ser revertida. Excepcionalmente haverá de novo a ocorrência de tremores, suor ou palidez, mas será possível manter parcialmente a sensação de fome e de fraqueza.

Para quem tem diabetes há menos de cinco anos, a boa notícia é que geralmente a falta de sensibilidade à hipoglicemia ainda não chegou a provocar alterações definitivas no sistema nervoso e, por isso, é possível reverter totalmente esse quadro com o controle glicêmico.

Embora não estejam disponíveis, na prática clínica, exames específicos para determinar se houve comprometimento do sistema nervoso autônomo, outros indícios desse comprometimento podem ser observados para se chegar ao diagnóstico. Um deles é a medição da pressão arterial da pessoa deitada e, em seguida, na posição em pé. Se houver queda muito significativa da pressão entre uma posição e outra, chamada de hipotensão postural, que causa a sensação de tontura e escurecimento da visão, esse é outro indício de que o sistema nervoso autônomo não está respondendo adequadamente.

A sensação de “empachamento” – de estar com o estômago abarrotado - após a ingestão de uma refeição também pode ser um dado adicional. Como o estômago tem terminações nervosas do sistema nervoso autônomo que respondem por seu esvaziamento progressivo, o alimento fica acumulado ali por mais tempo do que o normal. Esse atraso no esvaziamento progressivo do estômago é decorrente do processo chamado de gastroparesia diabética, uma paralisia incompleta do estômago.”

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