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Transtornos alimentares ainda são uma incógnita para muitos profissionais da saúde

Apesar da crescente preocupação nos últimos anos , os transtornos alimentares (TA) ainda são pouco discutidos na área da saúde. Muitos profissionais não sabem reconhecer os quadros de TA , tampouco tratá-los. Foi com o objetivo de preencher a lacuna sobre o assunto e discutir sobre as novas áreas em TA que as pesquisadoras do departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) , Marle Avarenga , Sônia Philippi e Fernanda Baeza Scagliusi, ex aluna da FSP, lançaram o livro “ Nutrição e transtornos alimentares : avaliação e tratamento.”

Enquanto a anorexia é um TA marcado pela recusa em se alimentar, provocando uma distorção da imagem corporal, a bulimia nervosa caracteriza-se por compulsão alimentar seguida por métodos compensatórios inadequados para evitar ganha de peso – vômitos provocados,abuso de laxantes e diuréticos. Além desses dois diagnósticos aparecem os transtornos alimentares não especificados (TANE) , e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP). O TCAP define-se pelo consumo em um período limitado de tempo, de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a ideal.

Marle Avarenga, uma das autoras do livro e supervisora do grupo de nutrição do Ambulim - Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, retrata a importância do diagnóstico correto do transtorno alimentar. “Há casos de pacientes que ao chegarem ao Ambulim , já haviam passado anteriormente por profissionais que não reconheceram o transtorno.” O fato é preocupante, já que a anorexia é considerada a doença psiquiátrica que mais mata. Estima-se que 20 % dos pacientes que desenvolvem a doença morrem.

Marle conta que novas áreas em TA tornaram de interesse e importância nos últimos anos. O livro retrata, por exemplo, a associação de transtornos alimentares com gravidez. A nutricionista explica que como náuseas e vômitos são comuns durante a gravidez, muitas mulheres ao tentar controlar o peso se aproveitam dos enjôos para autoinduzir os vômitos. Os efeitos são negativos tanto para a mulher quanto para o feto e gera alta prevalência de abortos, baixo peso ao nascer,complicações obstétricas e depressão pós-parto.

Outra área nova que o livro destaca é a associação entre transtornos alimentares e diabetes mellitus. Como o tratamento obriga o paciente a focar a atenção no peso e seguir um esquema dietético com maior rigidez o diabético tem maior risco de desenvolver o quadro de transtorno alimentar. Estudos mostram que a prevalência de adolescentes com diabetes tipo 1 que confessam usar praticas purgativas e restringem a alimentação com o objetivo de perder peso é mais que o dobro das adolescentes não diabéticas.

Apesar do número exato de pessoas que sofrem de transtornos alimentares se perder por falta de pesquisas direcionadas a esse público, calcula-se que um por cento da população sofra de bulimia e 0.5 % de anorexia nervosa. Enquanto no EUA a bulimia entre os adolescentes é considerada o maior problema de saúde pública, no Brasil a questão é tratada de outra maneira. Além do preconceito com os transtornos alimentares, muitos não o consideram um problema de saúde pública, já que atinge uma pequena parcela da população. Ademais, há pouquíssimos centros especializados nos tratamentos alimentares. A fila de espera no Ambulim chega a dois anos. O livro, portanto, ao tentar preencher esta lacuna, torna-se de grande importância para estudantes e profissionais de diversas áreas da saúde , além de dar subsidio para avaliação do transtorno em diferentes públicos e orientações sobre tratamento.

Janaina Frioli
AUN - Universidade de São Paulo - USP

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